A 28 de Dezembro de 2009 o céu ficou mais rico, tem mais uma estrela a brilhar.
A dor é imensa, a saudade é amarga, mas recordarei sempre a minha Mãe como a pessoa doce, sempre disponível, sempre com um sorriso, que todos os domingos colhia uma rosa do seu quintal e me dava com a doçura com que só uma mãe sabe dar.
Deu-me o dom da vida, ensinou-me a ter sentimentos, fomos cúmplices em tantas situações, nunca me condenou nem apontou o dedo mesmo quando fiz disparates na minha adolescência e juventude, ensinou-me a ter compaixão, foi com ela que dei os primeiros passos com linhas, lãs e agulhas, sempre me disse que aquilo que dermos ao próximo a vida nos retribuirá em dobro, não podia ver ninguém com fome ou com frio, trabalhou imenso para causas solidárias no anonimato sem nunca querer nada em troca.
Deus levou-a pois concerteza necessitava de alguém com um coração grande e mãos de fada lá em cima; no início de Dezembro a minha Mãe deu-me 140 pares de botas de lã para entregar à Comunidade Vida e Paz para que fossem distribuídas pelos sem-abrigo, certamente que lá em cima não havia ninguém disponível para fazer botinhas de lã para os anjos e ela foi ar uma ajudinha…
A minha Mãe tinha um coração enorme em todos os sentidos, pois anatomicamente falando era demasiado grande para o espaço que ocupava e as complicações cardíacas eram bastantes, e foi este coração que parou ao fim de 71 anos de tantas lutas, de tantas alegrias, de tantos risos e choros, de tanta vez abrir os braços para afagar quem precisava, de tanta vez consolar quem precisava de uma palavra carinhosa.
Deus levou-a sem sofrimento, sem agonia, enquanto dormia, em paz, e eu aqui fiquei a iniciar este novo ano sem a minha Mãe, aprendendo a não a ver mais, a não lhe telefonar todas as manhãs como habitualmente, mas sentindo a sua luz e sabendo que ela ficou a olhar por mim e quer que eu siga em frente até ao dia em que nos voltaremos a encontrar.
O céu está realmente mais rico, mas eu tenho um vazio enorme na minha vida.